Aberta

Numa conversa entre mãe e vizinha, ouvi minha mãe dizendo que tinha vergonha da pessoa que eu era. Não aceitava o fato de eu gostar de ver fotos de bundas, peitos na internet. Para ela, não era normal. Para minha vizinha, também não. Mas já parou para pensar: as pessoas ficam espantadas com a felicidade dos outros?! Independente se é mãe, pai, tio ou o caralho a quatro; se a pessoa se sente feliz vendo aquele tipo de coisa, permita. As pessoas falam tanto que nos amam, mas quando mostramos o que realmente gostamos é como se elas tivessem vergonha do jeito que somos.

Isso é difícil de entender quando eles dizem “eu me importo, te quero feliz”… Entendo que, como estamos dentro da casa dos nossos pais, temos que respeitar suas normas, mas não estamos falando de casa e sim das coisas que eu vejo na internet ou as pessoas com quem eu converso. A minha rede social foi feita para me expressar, dizer coisas que eu não posso dizer para meus familiares mais próximos.

“Você só posta merda nas suas redes sociais”. Minha mãe sempre dizia que era pra eu fazer as coisas que me deixassem feliz e que ela ia me aceitar do jeito que eu era. Mas o “aceitar” dela, era o que ELA aceitava não o que EU aceitava do mundo. Por exemplo: ela não aceitava homossexuais, mas eu aceitava e era lésbica. Então não era aceitar a minha individualidade, mas me aceitar dentre as coisas que ela acreditava. A minha felicidade era a mesma coisa. Se eu tinha felicidade em me ver beijando e tendo uma relação com uma menina, ela falava que aquilo não era felicidade. Mal sabia ela que aquilo me fazia tão bem por poder amar alguém!

Depois da frase da minha mãe, tivemos uma discussão que resultou em minha morte. Não, eu não me matei. Ela me matou. Eu já estava morta psicologicamente por não poder ser do jeito que eu sou e ser realmente feliz. Ela acabou com essa minha felicidade. Isto acabou com a minha vida. Eu gritava e chorava “porque tens tanta vergonha da tua filha? Pensei que tu me amavas, independente de um post; pensei que irias respeitar minha sexualidade; tenho meus direitos, independente de ser tua filha. Eu quero ter esse direito de ser feliz do jeito que eu entendo a vida. Por que não me aceitas?” Eu sei que é difícil saber que eu gosto de bunda, peito, quando tu gostas de homem, eu sei que é. Mas tu falas que tenho uma felicidade a ser buscada, mas já percebestes que quando tento buscá-la, tu a impede de chegar a mim? Me impedes de ver a menina dos meus sonhos, de ver meu Tumblr, que é cheio das “merdas”, como você diz… Na verdade aquilo é só um negócio que eu gosto de ver e que é minha realidade.

Diz: é a minha felicidade que queres, ou a tua? Se tens tanta vergonha das coisas que digo, do jeito que eu ajo, pegue esta arma e faça bom uso.” E eu achei que com aquilo ela iria me aceitar, me dizer que eu poderia ser do jeito que eu acho que eu devo ser, mas não. Ela puxou o gatilho, sem dó. Não era minha felicidade o importante ali e sim a dela e a vergonha que ela tinha por ter uma filha com uma mente aberta.

Aquele mesmo gatilho é puxado e me mata todos os dias.

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