Drummondiando

Desde que me entendo por gente, gosto de ler. Comecei lendo gibis da Turma da Mônica e, depois, avancei para os romances policiais da Agatha Christie. No colégio, tive acesso aos clássicos e, por fim, acabei escolhendo o caminho que parecia mais natural: faculdade de Letras.

A poesia de Drummond nunca fez tanto sentido: “de tudo fica um pouco”.

Mas, falando assim, parece até que a escolha foi fácil. Não foi. Fiz muitos vestibulares, de diversos cursos, até tomar minha decisão final. A escolha da carreira em pleno início da vida adulta é muito ingrata. Vou contar como aconteceu.

Estava eu fazendo cursinho pré-vestibular, mudando de ideia a cada semana sobre a carreira que deveria seguir. Até que comecei a fazer aulas extras de redação com um pequeno grupo de alunos. Redação sempre foi o meu forte e eu sabia que, tirando uma nota daquelas na redação dos vestibulares, eu compensaria meu fraco nas Exatas.

No final das aulas sempre fazíamos uma produção e a professora escolhia alguns exemplos para mostrar o que estava bom e o que podia melhorar. E minhas redações acabavam, muitas vezes, sendo escolhidas por ela como exemplos bons. Até que essa professora me convidou para fazer um teste como revisora de textos na editora onde ela trabalhava. Eu fui, passei e trabalhei lá por mais de cinco anos.

É verdade, “de tudo fica um pouco”.

Foi assim que, ironicamente, a minha trajetória profissional acabou influenciando na escolha do meu curso. O trabalho como revisora é um grande desafio: você aprimora o que outra pessoa escreveu, tentando se intrometer sem se intrometer tanto assim, para não influenciar no estilo particular de autoria. Mas, quando o livro/material fica pronto, você sente que ele é um pedacinho seu também.

E a linha entre revisar e editar é bem tênue. A transição é quase natural. Então, depois de cinco anos revisando, comecei a editar. Saí do segmento de livros acadêmicos e fui para o de didáticos. Foi um grande choque de realidade. Aprendi muitas coisas novas, conheci profissionais incríveis, me vi diante de um novo universo muito complexo e estruturado.

“De tudo fica um pouco”.

Hoje tenho 29 anos e 9 anos de experiência no mercado editorial. Sinto que tenho muita bagagem, muito conhecimento na língua portuguesa, muita experiência no trabalho com textos… mas que ainda não encontrei o meu lugar. E começou a crescer dentro de mim uma inquietação. Tentei vislumbrar minha vida daqui a dez anos e não me enxerguei mais na mesma profissão.

A inquietação virou ação. Comecei a pesquisar, a ler artigos, a ouvir podcasts e a me conectar com diferentes profissionais no Linkedin. Descobri, então, o mundo do UX Writing. A ação virou encantamento. Minha paixão pelas letras e minha completa obsessão por aplicativos pareceu se conectar. Será mesmo que uma coisa tem a ver com a outra?

Desnecessário repetir, “de tudo fica um pouco”.

A vida me trouxe até aqui. Cada experiência, cada decisão, cada vírgula e crase revisadas, cada adequação da linguagem a um público diferente. E é nessa jornada que me encontro atualmente. Vem comigo!

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